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20/07/2021ㅤ Publicado às 09:43

Durante o UIA2021RIO o Conselho e a FNA discutiram os desafios atuais do ensino de A&U

Mais uma vez,  o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU Brasil)  e a Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas (FNA)  aprofundaram a discussão sobre a realidade atual do ensino de Arquitetura e Urbanismo no país. A live “Ensino e Formação: Inclusão, Materialidade, Presencialidade” e “Educação em Arquitetura e Urbanismo: a Profissão e a Sociedade”, produzida exclusivamente para o 27° Congresso Mundial de Arquitetos – UIARio2021, foi realizada nesta segunda-feira (19/7) e tratou de temas que levaram ao cenário atual no ensino de Arquitetura e Urbanismo, correlacionado a práticas como a ampliação do acesso à educação, a importância da atividade prática na formação profissional e o ensino à distância, que ganhou força na pandemia.

Dividida em duas mesas, a live foi mediada por Gogliardo Vieira Maragno, professor da UFSC e coordenador da Comissão de Ensino e Formação do CAU/SC. Segundo ele, a primeira parte do debate tratou dos desafios e necessidades atuais na formação de profissionais, levantando uma reflexão sobre as potencialidades e os desafios que se colocam no âmbito da inclusão e das novas tecnologias de comunicação, especialmente diante do quadro de crise sanitária.

“A suspensão das atividades presenciais levou à criação de uma nova dinâmica de ensino, que só pode ser oferecida pelo modo remoto. Temos o desafio da atualização dos meios e procedimentos já vinha sendo estudado na área, mas não há como não falar sobre os riscos e os prejuízos irreparáveis que a substituição do caráter presencial, da imersão em ambientes urbanos e arquitetônicos podem trazer para a nossa profissão. Nosso ofício exige uma experiência prática”, destacou.

Ana Maria Reis de Góes Monteiro, presidente da Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo (ABEA), abriu a mesa de debates’ Ensino e Formação: Inclusão, Materialidade, Presencialidade’ destacando que há um ano e meio o Brasil se depara com o descaso do governo federal na proteção das instituições públicas que são as grandes responsáveis pelo enfrentamento à pandemia com suas pesquisas, seus laboratórios e seus servidores. As instituições de ensino privado, segundo ela, se mostraram verdadeiros laboratórios para novos negócios e, o que se viu, foi um aumento expressivo de turmas e a redução do número de professores.

“Estamos diante de um ensino apostilado com o uso de robôs nas avaliações”, destacou, fazendo referência às condições do ensino remoto. Para a arquiteta e urbanista, todas as ferramentas digitais são bem-vindas, desde que todos tenham acesso a elas. No entanto, é crítica quanto ao EAD, por considerar que o formato digital em todo o curso não permite o aprendizado em sua essência. “Um curso 100% online tira a vivência universitária, impede a troca de experiências entre alunos e professores, minimiza o papel do docente, reproduz modelos ultrapassados de ensino, incentiva a reprodução e não a criação de algo novo. A reprodução de aulas gravadas tender a congelar o conteúdo, sem a possibilidade de atualização”, enumera.

A diretoria geral da Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo (FeNEA), Helena Andrade Ew, levou para a mesa de debates números extraídos do último Censo do INEP, dados que revelam o cenário de exclusão dos jovens do ensino superior. De acordo com informações apresentadas pela estudante de Arquitetura e Urbanismo, entre os jovens de 18 a 24 anos, apenas 25,5% estavam cursando ou tinham finalizado curso superior no ano de 2019. “Esses números deixam claro que grande parte da população não consegue pisar dentro de uma universidade, apesar de iniciativas como sistemas de cotas e programas de financiamento estudantil”, disse. 

Para Helena, momentos-chave explicam, em parte, o cenário da educação superior no Brasil. Uma delas foi a promulgação da Emenda Constitucional 95, em 2016, que alterou o regimento fiscal e, como efeito, congelou por 20 anos investimentos em áreas básicas, como o da educação. Outro impacto sobre o setor foi a Lei de Diretrizes Orçamentárias 2021, que reduziu em 16,5% a verba para o ensino superior no Brasil. “Essas medidas geraram um efeito cascata sobre as universidades e o ensino, que veio se juntar à conjuntura pandêmica que evidenciou a fome, a falta de moradia, o desemprego e vulnerabilidade em geral”, pontuou.

Valter Luiz Caldana Junior, conselheiro do CAU Brasil e professor da Mackenzie, frisou que os desafios colocados para o ensino e a formação na pandemia precedem a crise sanitária. Segundo ele, profundas alterações na estruturação do ensino e graduação ocorrem desde o final dos anos 1990 e se aceleraram na primeira década dos anos 2000. “Isso se percebe estatisticamente pelo número de escolas e estudantes de Arquitetura e Urbanismo, decorrentes de fatores que merecem nossa atenção”, pontuou.

Entre os fatores citados por Caldana está a mercantilização do ensino, um processo ‘sem freios’ que, independentemente de serem em instituições públicas ou privadas, culmina na visão do ensino como um produto.  Outro ponto são as condições de oferta. “Há 25 anos era caro para uma instituição abrir e manter um curso de Arquitetura. Hoje perdemos a proteção das condições de ofertas mínimas. Isso se reflete nas bibliotecas, em laboratórios, em máquinas e equipamentos, em estrutura de comunicação e conexão, nos atelieres, na sala de aula. E reflete também nas condições de trabalho dos professores.”

Para Caldana, a pauperização das universidades públicas e dos cursos de Arquitetura e Urbanismo é algo sério. “Colocar um aluno para dentro da universidade é fácil. Difícil é abrir a porta e mantê-lo lá dentro”, concluiu.

DESAFIOS DO MERCADO DE TRABALHO

A segunda mesa da live abordou a educação continuada e os desafios do mercado de trabalho na mesa ‘Educação em Arquitetura e Urbanismo: a Profissão e a Sociedade’. No debate mediado pelo presidente do CAU/RS, Tiago Holzmann da Silva, a diretora da Anparq, Ana Claudia Cardoso, levou dados da ABEA que revelam a grande concentração de cursos de Arquitetura e Urbanismo nas regiões Sul e Sudeste, com instituições pulverizadas pelas cidades. Já no Norte, região em que atua, Ana reforçou que as universidades basicamente estão concentradas em regiões metropolitanas.

Angelo Arruda, arquiteto e urbanista com vivência em três regiões do país ao longo de sua formação e trajetória profissional, comentou que vivenciou três realidades diferentes no ensino superior, da condição de estudante a docente. “Os números são estarrecedores. Temos 220 mil colegas no mercado, e outro gigantesco número de estudantes da educação a distância– algo em torno de 80 a 90 mil profissionais”, disse. Segundo Arruda, a sociedade está cada vez mais exigente, complexa, mais tecnológica e, por isso, a profissão precisa dar respostas rápidas a esse público, seja de qual classe social for.  “Se você vai projetar para a baixa renda o colega que está saindo da faculdade tem que ter um repertório para esse segmento. E vice-versa. Mas a grande pergunta que fica é: os cursos de Arquitetura e Urbanismo executando a sua informação com esse olhar? Ou estamos amarados ao currículo mínimo tradicional?”, questionou.

Fechando o debate, Maribel Aliaga, professora da UnB e conselheira do IAB/DF, levou dados do ENADE 2019 que mostram a predominância de estudantes de Arquitetura e Urbanismo egressos do ensino privado. São 723 cursos no Brasil, sendo que 90,5% vêm de instituições particulares.  Apenas 8,8% possuem formação técnica, o restante, é proveniente do ensino médio tradicional.  Os dados trazidos por Maribel evidenciam que os pobres chegaram à graduação e, muitos, à pós-graduação. “A universidade tem que abrir o olho porque estamos diferentes. Não somos mais a elite”, afirmou a arquiteta e urbanista.

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