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27/05/2021ㅤ Publicado às 09:14

Em 2010, foi escolhido pela revista “Time” como um dos 25 pensadores mais inovadores do mundo, e pela revista Planetizen (EUA) como o segundo urbanista mais importante do mundo (depois de Jane Jacobs)

O Brasil perde mais de um seus arquitetos e urbanistas que conquistaram reconhecimento mundial por meio de sua prática profissional inovadora e ousada. É com consternação que o CAU Brasil noticia que morreu hoje  o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, autor de grande projetos urbanos e de edificações, que foi três vezes prefeito de Curitiba, duas vezes governador do Paraná e presidente da União Internacional dos Arquitetos (UIA). Em 2010, foi escolhido pela revista “Time” como um dos 25 pensadores mais inovadores do mundo, e pela revista Planetizen (EUA) como o segundo urbanista mais importante do mundo (depois de Jane Jacobs). Sua mais recente obra de destaque foi Parque Urbano da Orla do Guaíba, em Porto Alegre, inaugurada em 2018.

Nascido em Curitiba (1937), formou-se na mesma cidade, pela Universidade Federal do Paraná, em 1964. Destacou-se rapidamente em concursos de Arquitetura e Urbanismo no Brasil e no mundo. Em 1967, ele venceu o Concurso Nacional de Projetos para o Edifício-Sede da Polícia Federal, em Brasília. Ficou em segundo lugar no Concurso Internacional Eurokursaal (Espanha) e no “International City Design Competition”, da University of Wisconsin (EUA), além de vários prêmios do Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB, seções estadual e nacional.

Sua imagem, porém, é mais conhecida pelo seu trabalho como prefeito de Curitiba.  No seu primeiro mandato, em 1971, Jaime Lerner iniciou as transformações da cidade e implantou o Sistema Integrado de Transporte Coletivo, reconhecido internacionalmente pela sua eficiência, qualidade e baixo custo. Tinha apenas 33 anos de idade. Na época, Curitiba passou a pautar três transformações básicas: a física (reestruturação de vias, zoneamento e uso do solo, e sistema de transporte coletivo), a cultural (o curitibano assume sua identidade com a cidade, a partir do calçadão de pedestres da Rua das Flores, dos parques, do Teatro do Paiol e da Fundação Cultural de Curitiba) e a econômica (puxada pela implantação da Cidade Industrial de Curitiba). Foi reeleito mais duas vezes, em 1979 e 1989.

GOVERNADOR DO PARANÁ E PROFESSOR

Depois, assumiu dois mandatos consecutivos como governador do Paraná (1995-2002). Entre diversas iniciativas, criou o primeiro fundo brasileiro, através do Programa “Paraná Urbano” destinado exclusivamente para a melhoria da qualidade de vida nos municípios paranaenses: construção de praças, creches, centros de saúde, iluminação pública, pavimentação de ruas, transporte escolar, etc. Com as “Vilas Rurais”, o governo e as prefeituras implantaram 412 comunidades atendendo a 16.000 em casas de alvenaria de 44,5 m2, água e energia elétrica. Somando-se os programas de moradia urbana, totalizaram-se mais de 57.000 unidades habitacionais em 350 cidades.

Desenvolveu planos urbanísticos para várias cidades do Brasil, como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Salvador, Aracaju, Natal, Goiânia, Campo Grande e Niterói; prestou assessoria internacional para cidades como Caracas (Venezuela), San Juan (Porto Rico), Shangai (China), Havana (Cuba) e Seul (Coréia do Sul), e foi consultor em assuntos urbanos para as Nações Unidas. Em 2007 recebeu da XI Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires o prêmio conjunto pela urbanização do bairro Pedra Branca; e em 2009 o Prêmio Brasil Olímpico, agraciado pelo Comitê de Candidatura Rio 16, pela participação no desenvolvimento do Projeto BRT e por serviços de consultoria à cidade do Rio de Janeiro relativos a sua candidatura a sede olímpica.

No campo da educação, foi professor da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná, e professor convidado e conferencista nas universidades americanas de Berkeley (Califórnia), Cincinnati, Columbia (NY), e na universidade japonesa de Osaka, além de conduzir seminários em diversos países como Colômbia, Porto Rico, Espanha, Reino Unido, Japão, EUA e China.

SEMPRE PRODUTIVO

“Estou sempre com um brinquedo novo”, disse o arquiteto na II Conferência Nacional de Arquitetura e Urbanismo, promovida pelo CAU Brasil em 2017. “Procuro fazer de cada dia uma alegria. Não faço nada que não seja por prazer. Tenho encontrado tantos colegas que pensam a mesma coisa, e isso me dá uma alegria que não se paga”. Na ocasião, deu lições poderosas sobre otimismo, inovação e a construção de cidades mais justas e sustentáveis. “Temos que ter a coragem de fazer coisas simples e imperfeitas. A Arquitetura as vezes é um compromisso com a simplicidade e imperfeição. Temos que ter orgulho da nossa constelação de arquitetos-estrelas, mas precisamos mais de uma constelação de arquitetos preocupados com as cidades. Menos ego-arquitetos, mais eco-arquitetos”, afirmou.

Para ele, rapidez é uma atribuição muito importante para os arquitetos e urbanistas. “Por isso começamos com a ideia de acupuntura urbana, transformações rápidas com uma atuação pontual que pode criar uma sinergia para melhorar a cidade. Às vezes nós demoramos porque queremos ter todas as respostas, não podemos ser tão prepotentes assim”, explicou. “Precisamos entender que planejamento é uma trajetória onde nós podemos começar mas temos que deixar que a população nos corrija quando estivermos no caminho errado. Começar, fazer rápido. Queremos discutir demais, perdemos a oportunidade da mudança”. Para ele, a solução para as cidades está em apenas três medidas: (i) usar menos carros; (ii) morar perto do trabalho; e (iii) separar e reciclar o lixo. 

“O brasileiro fica encantado com as cidades europeias, mas não reproduz as soluções aqui. Quando chega de volta ao Brasil, volta a querer separar, dar prioridade ao automóvel, volta a se entregar a soluções que não vão fundo no problema”, disse em entrevista à BBC Brasil. Para quem quer conhecer mais da obra do arquiteto e urbanista, uma boa dica é começar pelo documentário “Jaime Lerner – Uma história de Sonhos”, lançado em 2016.

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